sábado, 21 de março de 2015

"Televizinha" é sobre a arte de brincar de Deus

Helder Miranda

A primeira palavra que escrevi foi Xuxa. Logo, eu não sei o que separa aquele garoto que era vidrado em Bruna Lombardi, morena de olhos claros em "Roda de Fogo", daquele que achava linda a Jocasta de "Mandala", com a esfuziante Vera Fischer em sua melhor fase clicada no melhor ângulo para aquela capa brega - e linda - da foto gigante do disco de "Mandala" nacional do homem que, hoje percebo, era fissurado por mulheres de olhos claros, cresceu vendo televisão e acompanhou, pelas telas dela, mudanças significativas no Brasil e no mundo. 

Pouco antes da popularização da internet para as grandes massas vimos, pela TV, o atentado que derrubou as torres gêmeas em Nova Iorque. Mas, muito, muito antes, vimos, em preto e branco, o homem pisar na lua. E dizer que a TV vai acabar um dia é a tolice mais, desculpem o linguajar pobre, mais tola do mundo. Pois é claro que esse veículo, tão importante e tão decisivo, vai, sim, se transformar e a tendência é torná-la, sempre, cada vez mais interativa. 

Por isso, "Televizinha", lançado em 22 de março, uma data muito especial para mim, é um espaço - e eu me recuso a pensar que é um blog, um site ou um portal, porque falamos, a partir dela, de material humano. A televisão é uma fábrica incessante de musas e galãs, de mocinhos e vilões para todos os gostos e, muitas vezes, é para onde a gente foge depois de um dia estressante de trabalho. E, no meio do caminho, não podem faltar spoillers, informações de bastidores, cenas memoráveis, opiniões de gente apaixonada nem tanto por televisão, mas por coisas que ela apresenta - nem todas.

Televisão, també, é sobre gostar de olhar. Então, por que "Televizinha"? A resposta é simples: qual é o diminutivo de televisão? "Televisãozinha", talvez? E, como bem apontou meu colega Ted Sartori, um jornalista esportivo apaixonado por televisão, assim eram chamados os que viam TV na casa dos outros, os "televizinhos" ou "televizinhas"... E é um pouco como, nós, nesses tempos de pressa, quando perdemos uma cena, um episódio, um capítulo, que corremos para a internet para assistir online ou fazer um download depois. 

A partir das telas, sejam elas de uma televisão, de um monitor, de um celular, a partir das linhas de dramaturgos que são pagos para brincar de Deus, acompanhamos personagens que alavancam e destroem carreiras, que arrebatam homens e mulheres e, algumas vezes, morrem no final, como o último deles, "o Comendador" José Alfredo, criado por Aguinaldo Silva e interpretado por Alexandre Nero, antes um ator quase imperceptível e hoje alçado ao posto de símbolo sexual. Outros irão surgir e nós, com certeza, poderemos acompanhar ou desistir dele no meio da trajetória. A audiência acompanha os altos e baixos de uma produção, assim como as intempéries os altos e baixos da vida real. Sempre funciona assim.
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