segunda-feira, 23 de março de 2015

Brasil perde talento de Cláudio Marzo

Cláudio Marzo: galã no início da carreira
Helder Miranda

Poucos atores foram do céu ao inferno na forma física como Cláudio Marzo. No céu, o auge como o belo galã de “Minha Doce Namorada” que contracenava com Regina Duarte, após o sucesso de “Irmãos Coragem”. Ele estava internado desde o dia 4 de março, com pneumonia, e morreu aos 74 anos, às 5h39 do domingo de 22 de janeiro, na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro. O inferno foi mostrado em seu retorno à Globo, em 1993, com o coveiro Orestes Fronteira de “Fera Ferida”, assinado por Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn.

É claro que esse negócio de forma física é apenas uma brincadeira, e uma maneira de dizer que o ator não é dono do seu corpo. Ele se transforma para dar vida a personagens, bonitos ou feios, jovens e decrépitos... e Cláudio Marzo fez isso com muita categoria, sem perder a elegância.
Antes de morrer, Cláudio Marzo passou por outras duas internações.

No ano passado, em 28 de dezembro, ele foi internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) com arritmia cardíaca e pneumonia. Recebeu alta no dia 31 e passou o réveillon em casa. Dia 8 de fevereiro voltou a ser internado, desta vez por um quadro infeccioso associado à insuficiência renal e, também, a um enfisema descompensado. Ele deixa a atriz Alexandra Marzo, fruto do seu casamento com a atriz Betty Faria, o filho Diogo, com a atriz Denise Dumont, e Bento, fruto do seu casamento com a atriz Xuxa Lopes.

Nascido em 26 de setembro de 1940, em São Paulo, filho de um metalúrgico e de uma dona de casa e descendente de italianos. Abandonou os estudos aos 17 anos para trabalhar como figurante na TV Paulista. Depois, foi contratado pela TV Tupi.

Duda em "Irmãos Coragem": flamenguista
Tinha 25 anos quando recebeu o convite para trabalhar na emissora e, nesta época, atuava como dublador da série americana “Mr. Novac”, fazia parte do Grupo Oficina, e morava em São Paulo. Precisou se mudar para o Rio de Janeiro e assinou contrato, integrando o primeiro grupo de atores globais contratados da emissora, que inaugurou em 26 de abril de 1965. Durante muitos anos foi considerado ator do primeiro escalão da Rede Globo.

Nesta emissora, fez diversos personagens da literatura brasileira. E, como estava dublando filmes comprados pela Globo, foi escalado para uma das primeiras novelas da emissora, no horário das 19h. Era “A Moreninha”, de autoria e direção de Otávio Graça Mello, que durou 35 capítulos e foi exibida de 25 de outubro a 10 de dezembro de 1965. Na produção, uma adaptação do folhetim de mais sucesso no Brasil, assinado por João Manuel de Macedo, ele era Augusto, que se apaixonava por Carolina, interpretada por Marília Pêra. A produção se esmerou na reconstituição de época e ainda adequou diálogos à trilha sonora.

Também foi o jornalista Fernando Seixas, que abandona Aurélia (Norma Blum), uma moça pobre, para se casar com Adelaide (Fátima Freire) por causa do dote dela. O personagem é do romance “Senhora”, um sucesso de José de Alencar, assinada por Gilberto Braga, entre 30 de junho a 17 de outubro de 1975, em 80 capítulos.

Regina Duarte, o par perfeito
Cláudio Marzo participou de várias novelas na década de 1960, sendo "Véu de Noiva", lançada como “a novela verdade”, um de seus momentos mais marcantes, na trama de Janete Clair, ao lado de Regina Duarte. “Véu de Noiva” foi considerada o "Beto Rockfeller" da Globo, que criou a produção em resposta à tendência iniciada pela TV Tupi e foi a primeira a ganhar uma trilha sonora original, com músicas escolhidas por Nelson Motta. A novela foi produzida pela Rede Globo e exibida entre 10 de novembro de 1969 e 6 de junho de 1970. Dirigida por Daniel Filho, teve 204 capítulos e foi exibida em preto-e-branco.

Esse par romântico Marzo e Regina Duarte caiu no gosto do público e voltou a ser escalado em "Irmãos Coragem", de Janete Clair, produzida em 1970. Marzo, nesta produção, foi um dos irmãos Coragem, o jogador de futebol Duda, mais um sucesso na carereira dele, que confessou não querer fazer sucesso em televisão por achar um trabalho inferior ao de teatro. Mas, já que precisava trabalhar, continuou sua trilha de sucesso e de pares românticos com Regina Duarte.

"Minha Doce Namorada" (de Vicente Sesso, entre 19 de abril de 1971 a 21 de janeiro de 1972, com 242 capítulos), e "Carinhoso" (de Lauro César Muniz, exibida entre 2 de julho de 1973 e 18 de janeiro de 1974), que continuam na memória de muitos aficcionados, são provas vivas disso.

"Bambolê" e Rede MancheteNos anos 80, em "Brilhante", novela de Gilberto Braga em 1981, fez par romântico com Fernanda Montenegro para contar a história de um motorista e sua patroa. O romance entre o empregado e a madame arrebatou o público de tal maneira que a vilã, interpretada por Fernanda Montenegro, foi perdoada pelo público. Em 1987, Marzo protagoniza outro sucesso de sua carreira. Trata-se da novela "Bambolê", no horário das 18h, exibida entre 7 de setembro de 1987 a 25 de março de 1988, em 172 capítulos. Escrita por Daniel Más, com colaboração de Ana Maria Moretzsohn e direção-geral de Wolf Maya, a obra foi baseada no romance de Carolina Nabuco, "Chama e Cinzas".

A trama se passava em 1958 e girava em torno do viúvo Álvaro Galhardo, um viúvo liberal que cria as três filhas: Ana, Yolanda e Cristina . Ele se apaixona novamente por Marta, uma mulher desquitada, que tem dois filhos. Ao mudar-se do Méier, bairro carioca da Zona Norte, para Ipanema, Zona Sul, Marta vai morar exatamente em frente à casa de Álvaro, iniciando com ele um romance.

"Bambolê", uma novela que marcou época... literalmente!
Também participou de novelas na extinta TV Manchete. Em 1989, esteve em "Kananga do Japão", de Wilson Aguiar Filho, e "Pantanal", de 1990, um dos maiores sucessos de Benedito Ruy Barbosa, de 27 de março a 10 de dezembro de 1990, em 216 capítulos.Dirigida por por Jayme Monjardim, Carlos Magalhães, Marcelo de Barreto e Roberto Naar. A trama apresentou Claudio Marzo, Marcos Winter, Jussara Freire, Antonio Petrin, Luciene Adami, Marcos Palmeira, Paulo Gorgulho, Sérgio Reis, Almir Sater, Angelo Antonio, Cássia Kis Magro e Cristiana Oliveira nos papeis principais.

O retorno à TV Globo, em 1993, foi marcado pelo coveiro Orestes Fronteira, em "Fera Ferida", de Aguinaldo Silva. Em 1995, participou do remake de "Irmãos Coragem", vivendo o poderoso coronel Pedro Barros, o vilão que perseguia a família Coragem. Em 2007, fez parte do elenco da novela "Desejo Proibido", de Walther Negrão, e da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", de Gloria Perez, interpretando o ex-governador do Acre Ramalho Jr. Em 2009, o último trabalho na Globo foi o seriado "Guerra e Paz", de Carlos Lombardi, interpretando o capitão Guerra.
No cinema, Marzo fez 35 filmes, entre eles "O Homem Nu", dirigido por Hugo Carvana, com roteiro de Fernando Sabino, lançado em 1997.
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