quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

"Êta Mundo Bom" prova que Walcyr Carrasco é um novelista de primeira

Por André Araújo
Em janeiro de 2016

A primeira vez que ouvi falar em Walcyr Carrasco foi em meados de 1989,quando uma revista de fofoca anunciou que o SBT exibiria, à partir de outubro do mesmo ano, uma novela intitulada “Cortina de Vidro” que teria Herson Capri e Nívea Maria como protagonistas,além de grande elenco. Para completar, a pequena matéria ainda explicou que toda a produção seria independente,tendo Guga de Oliveira (Irmão do “todo-poderoso” Boni!), como diretor, supervisor de texto e responsável pela exibição da trama.

As gravações começaram em agosto de 1989 e a atriz Nívea Maria, sondada para protagonizar “Gente Fina” na Rede Globo, abandonou o projeto, alegando “amadorismo” do diretor. Mas a “baixa” foi resolvida logo e Ester Góes foi chamada para substituí-la. Em 23 de outubro do mesmo ano, “Cortina de Vidro” estreou às 19h40. Adorei o primeiro capítulo, mas alguns episódios depois vi que, embora a trama fosse dinâmica, "faltava alguma coisa”, talvez devido ao numeroso elenco.

De fato,a história começou a ficar confusa. As tramas secundárias começaram a ter o mesmo peso da trama central e tudo ali se desajustou de vez, mas eu dizia: “Esse Walcyr Carrasco é bom, mas está apresentando tudo ao mesmo tempo, um erro”. Acho que o autor se deu conta dessa verdade e de repente toda a novela mudou. O autor promoveu um incêndio na história e grande parte dos personagens saiu de cena, incluindo a protagonista Branca (Betty Gofman), que deu lugar para a personagem da (hoje jornalista) Sandra Annemberg, que estava muito à vontade no papel da operária Angela.

A novela foi um fiasco e acho que nem seu elenco a acompanhou. Mas mesmo com o insucesso da primeira novela de Walcyr Carrasco,vimos ali o potencial do autor que, no final de 1990 ainda nos deu de presente a minissérie “Rosa dos Rumos”, exibida pela Rede Manchete, a real amostra de seu talento. Seis Anos depois, em 1996,a mesma emissora exibiu outro êxito do versátil Walcyr Carrasco,”Xica da Silva”,um novelão de época que se tornou o grande sucesso do ano. 

Para completar, contratado do SBT, que recusava todas as sinopses do autor, o escritor assinou a saga da escrava Xica com o pseudônimo “Adamo Angel”, causando grande frisson no meio, uma vez que ninguém nunca havia ouvido falar nesse tal novelista. Sucesso do começo ao fim. E o sucesso foi tão estrondoso que a trama durou um ano no ar, ou seja: foram 231 capítulos de uma história que se apresentava diferente a cada mês. A trama simplesmente não se repetia e em nada mudava o curso do enredo principal, que conquistou nobres e plebeus.

Silvio Santos descobriu a “sacanagem” de Walcyr e, para puni-lo, pediu a ele uma trama inédita para o SBT, o que o “patrão” Silvio foi prontamente atendido. Mesmo com toda a trama de “Pérola Negra” pronta, Silvio Santos reconheceu em Walcyr Carrasco uma nova Janete Clair e apostou tudo em “Fascinação”,que estreou no mesmo dia de “Torre de Babel” (25 de maio de 1998) que, para sorte do SBT, entrou em crise de aceitação já na primeira semana.

“Fascinação” foi exibida com grande sucesso e foi aí que as portas da Rede Globo se abriram para Walcyr Carrasco, que estreou “O Cravo e a Rosa” com estrondoso sucesso,levando a audiência das seis ao ápice. Sucesso do começo ao fim. E já com essa novela, o escritor consolidou de vez seu talento como autor de novelas. Depois dessa, outros sucessos vieram, como “Chocolate Com Pimenta”,"Alma Gêmea”,”Sete Pecados”, "Gabriela”,"Amor à Vida”, a grande surpresa que foi “Verdades Secretas” e agora “Êta Mundo Bom”, atual folhetim das seis,que tem batido todos os recordes de audiência desde sua estreia, em 18 de janeiro.

E por que não apostar numa trama previsível e cheia de clichês? Essa é a verdadeira chave do sucesso para as telenovelas. De realidade, todos os telejornais estão cheios. E novela de verdade é a que temos visto desde que a trama protagonizada por Sérgio Guizé (Candinho) entrou no ar. Depois de um dia intenso de trabalho, o povo brasileiro tem o direito de chegar em casa e se deparar com uma história como essa, que tem sido ágil desde o primeiro capítulo.

O elenco é, na maioria, o mesmo que tem costume de trabalhar com o autor, e Jorge Fernando, na direção, completa o quadro. E assim como nas novelas de Dias Gomes não poderia faltar Paulo Gracindo, e nem nas tramas de Janete Clair não poderia deixar Francisco Cuoco de fora, em novela de Walcyr Carrasco não poderia deixar de ter Elizabeth Savalla, que tem tudo para roubar a cena com sua personagem “Cunegundes”, que embora esteja muito exagerada, ainda tem muitos capítulos para ficar mais à vontade. E novela que se preza tem de ser assim mesmo: folhetim. E nisso,Walcyr Carrasco não precisa mais provar nada.

Sua novela está linda,Walcyr! Parabéns! Autor de verdade de novelas é você, que se encaixa em qualquer horário sem perder o estilo e,claro,o fôlego!


***

André Araújo é um apaixonado por novelas. Tanto que ele escreve algumas por aí e publica pela internet, arrebatando fãs e distribuindo inspiração. Da cabeça dele já saíram grandes personagens. Entre as novelas virtuais, é autor de "Uma Vez Na Vida! e "Flor de Cera", que será lançada em breve e tem até grupo no Facebook - neste link.
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