domingo, 22 de março de 2015

Clássico da modernidade é de tirar o fôlego!

Eduardo Caetano 

Sou totalmente suspeito para escrever sobre “Babilônia” porque sou fã incondicional de Gilberto Braga, mas eu não podia optar por outro tema  para iniciar minha colaboração no “Televizinha”. Na minha avaliação, a primeira semana da nova novela das nove foi, simplesmente, de tirar o fôlego. 

Depois de assinar “Insensato Coração” (2011), que, embora a construção da personagem Norma tenha sido muito bem elaborada, na minha avaliação deixou a desejar, Gilberto volta cheio de gás com “Babilônia”. Creio que, dificilmente, Gilberto conseguirá superar sua grande obra, “Vale Tudo” (1988/ 1989), mas o seu mais novo trabalho começou fazendo com que todos seus fãs sintam orgulho de parar em frente a TV para admirar uma trama muito bem construída, com interpretações inigualáveis, uma mocinha de carne, osso e sangue quente, além de um duelo de alta classe entre duas grandes vilãs, Beatriz (Glória Pires) e Inês (Adriana Esteves). 

Desde o primeiro capítulo, percebe-se elementos muito claro de “Vale Tudo” e “Celebridade” (2003/2004), dois de seus maiores sucessos. Nas primeiras cenas de Inês, somos brindados com a clássica briga de casal por causa das faturas que se multiplicam e da conta bancária que só é subtraída. Recurso que Braga e o diretor Dennis Carvalho usaram em Vale Tudo e Insensato Coração.  

Na trama de 1988, a mocinha honesta Raquel (Regina Duarte) e o esposo Rubinho (Daniel Filho) discutem porque ela, honesta e batalhadora, não suporta mais um casamento marcado por dívidas que se acumulam por causa de um marido sonhador e irresponsável. A cena de abertura nos apresenta a pequena Maria de Fátima (interpretada na fase adulta por Glória Pires) acompanhando a briga dos pais.  

“Insensato Coração” também começa dessa forma, durante briga entre o casal Wanda (Natália do Vale) e Raul (Antônio Fagundes). O pequeno Leo, que posteriormente se torna Gabriel Braga Nunes, já demonstra sua vilania ao quebrar o avião de brinquedo do irmão enquanto os pais discutem. 

A mesma cena da briga de casal foi utilizada para iniciar “Babilônia” e nos apresentar a vilã Inês, assim como todo seu descontentamento. Algumas cenas seguintes, Inês vê uma revista que estampa Beatriz em suas principais páginas. O misto de inveja e admiração que a vilã sente pela ex-amiga nos remete à obsessão doentia de Laura (Cláudia Abreu) por Maria Clara Diniz (Malu Mader) em “Celebridade”. 

Aqui não irei entrar no mérito dos beijos entre Estela (Nathália Timberg) e Teresa (Fernanda Montenegro). O talento das octogenárias é superior a qualquer polêmica que envolva suas personagens. Fernanda conduz a interpretação com maestria, muita vezes somente com alguns gesto. Basta um único olhar para passar toda a verdade e emoção ao telespectador. 

E, ao contrário de mocinhas antipáticas, bobas, frias, ou sem sal, Regina (Camila Pitanga), nome escolhido em homenagem a Regina Duarte, faz jus ao nome, que significa “rainha”. Regina reina em cena, soberana, é uma mocinha quente, com cor, que chora e ri, que fala alto. Que sonha alto! E do alto do morro Babilônia enfrenta o trabalho na praia, os estudos para o vestibular, uma gravidez inesperada, o transplante de coração da mãe, o assassinato do pai, a traição do namorado e a criação da filha de cabeça erguida. 

E a trama é ágil. A narrativa demonstra a passagem de tempo no diálogo das personagens e nos fatos em si. Os atos estavam diretamente ligados ao Ano Novo, Carnaval.  

E para acompanhar esse ritmo intenso é preciso buscar ar no fundo dos pulmões. Principalmente para não ficar para trás na grande batalha entre Beatriz e Inês, que conseguiram uma ficar na mão da outra, seja pela filmagem de uma com o amante ou pelas impressões digitais da outra na arma do crime. Babilônia... De tirar o fôlego!

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"Ler significa reler, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem e interpreta a partir de onde os pés pisam". Essa frase, do teólogo Leonardo Boff, resume bem a personalidade do jornalista Eduardo Caetano. Nascido em janeiro de 1982, ele é formado pela Universidade Católica de Santos e encontra nas observações, sempre muito coerentes a respeito da vida real e da teledramaturgia, respostas que distribui a quem está disposto a ouvir.
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